segunda-feira, 20 de junho de 2016

Os Ovos da Bombonieri




Poucas coisas me fazem lembrar o quanto desligado fui enquanto criança. É claro que com uma pequena ajuda sarcástica dos seus familiares contribui muito com o caso.
Certo dia me perdi em meio a pensamentos de minha infância e um em especial fez-me destacar essa intriga. Um fato incluindo meu cunhado, que já como antigamente dizem, se cunhado(a) fosse algo bom, não começariam com estas duas letras sem vergonha que não me darei ao luxo de pronunciá-las. Lembrando aos leitores que este blog não utiliza palavras de lepo lepo e demais casos, mesmo que algumas vezes as exijam. Enfim…
O ano era 98. Eu, em meu auge de sapeca já velhinho, estava assistindo TV com meus familiares, incluindo o dito cujo da historia.
Naquele tempo, havia muito gosto por bombonieris, pois que não amava um doce após o almoço, não? Então, após esta refeição, sentávamos na sala e deliciávamos com alum programa. Coisas de famílias antigas, certo?
Estava tudo normal quando meu cunhado se volta para mim e disse:
Artur, vai na bombonieri ali da esquina e traz dois ‘ovo’ para mim.
E deu-me 20 centavos. Sim! naquele tempo, ovos eram vendidos a 10 centavos a unidade. O querido e amado pão também. Bons tempos não?!
Naquele momento fiquei intrigado.
Ovo? Na bombonieri?
Mesmo com aquela dúvida pairando sobre minha cabeça, não o questionei e parti para minha missão brava e heroica. Descobrir a verdadeira função de uma Bombonieri. Balas ou Ovos? Estava prestes a descobrir.
Ao chegar na loja a vendedora veio me atender perguntando-me o que queria, e logo me lancei a sorte.
Tem ovo? Perguntei a ela.
Logicamente foi notória sua face de quem não entendera nada daquela pergunta, e para ter certeza, perguntou-me novamente.
O que você deseja, garoto?
Claro que nos tempos de hoje, logicamente iria sacar meu erro descomunal e não perguntaria mais, mas como era um simples 'infanto-juvrnil' lesado, persisti em minha indagação.
Tem ovo?
A mulher ficou parada olhando minha cara de garoto atencioso que adentra no mundo da Bombonieri para o cunhado em busca de ovos. Acho que ela ficou se perguntando.
Ou esse garoto é lesado, ou está curtindo com minha cara!
Mas acho que, ao focar bem minha expressão, ela logo me definiu.
É lesado mesmo!
Com todo carinho e amor, ela me respondeu.
Aqui não vendemos ovos, mas no mercado aqui ao nosso lado sim! Talvez lá você encontre o que procura.
Demorou alguns anos para eu perceber o quão irônica e sarcástica aquela mulher foi.
Como eu era inocente naquela época, apenas agradeci sua bondade e fui ao mercado ao lado. Como minha defesa afirmo que nem sabia o que significa as palavras ironia e sarcasmo naquele tempo.
Enfim achei os tais ovos que ele queria. Paguei-os e voltei à minha humilde residência com os dois ovos que meu querido e amado cunhado me pedira anteriormente.
Ao chegar na sala onde ele e toda a família estava, entrego-lhe a sacola com os ovos e (pasmem vocês pela minha inocência) afirmei com a voz alta e em bom tom como se fosse a maior das razões para ele.
Lá não vende ovo! Tive que ir no mercadinho para comprar. Disse-lhe enquanto entregava a sacola.
Logicamente ele franziu a testa como que não sabia o que estava acontecendo, olhou a sacola com os ovos, voltou seus olhos ainda franzidos de dúvida para mim e lançou:
Artur, eu não pedi dois ‘ovo’, eu pedi dois Zorro!
Eu, finalmente entendendo o que ele dissera, tentei justificar.
Ah, eu entendi ovo! Até achei estranho porque a mulher lá não entendeu mesmo o porquê de eu pedir ovo!
E você foi até à Bombonieri e perguntou ainda se lá vendia ovo? Ele perguntou já com ar de riso, pronto para a minha resposta idiota.
Sim, ué! Você falou pra eu ir lá! Aquilo ainda parecia normal para mim. Eu realmente não entendia a zombação.
Zorro era um pirulito de iogurte que vendia muito naquela época. Eu mesmo adorava aquele treco.
Sem dúvidas, é dispensável eu dizer que ele e minha família riram da minha cara. Para minha sorte, meu primo (aquele bem sacana que zoa todo mundo, sabe?) estava presente, então já deu para perceber como me senti depois disso tudo, não é?!.
Foi uma gozação só! Por anos fiquei conhecido como o cara que pediu ovo na bombonieri. O pirulito de ovo. Criança é uma coisa que só mesmo viu...
Como penalidade nunca mais voltei lá naquele lugar. Aquela vendedora ia sentir toda minha fúria de rebeldia por doces. Mas a bem verdade é que tive medo de adentrar a loja e ela novamente vir até mim e lançar:
Quer ovo?

Fonte da imagem: www.casacamponesa.com.br

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