segunda-feira, 2 de maio de 2016

Paciente Estranho



Era madrugada quando o telefone tocou. Abri os olhos pesados de sono e puxei o telefone do gancho.
Raios-x.
Opa! Era a emergência. Tem um ‘x’ de tórax e seios da face aqui pra você.
Está bem. Respondo sonolento. Já, já estarei aí.
Troco de roupa e me dirijo à emergência.
Onde está o paciente?
Ali. Responde-me o enfermeiro apontando para um homem magro, alto.
Por favor, me acompanhe. Digo a ele com os olhos semi fechados de sono.
Quando chegamos à sala de exames, peguei os filmes e fui posicionar o paciente. Comecei com os seios da face.
Enquanto tentava posicionar sua cabeça, percebi que ele a toda hora voltava sua face para o lado direito com certa força e vigor, como quem estivesse jogando o cabelo para o lado.
Até aí tudo bem, mas comecei a achar estranho, pois ele não tinha cabelo comprido. Era tão curto quanto o meu! Mas enfim...
Finalmente consegui mantê-lo parado sem jogar seus longos cabelos para o lado.
Corro para a mesa de comando. Preparo e disparo. Quando volto para o paciente, percebo que ele estava completamente fora da posição correta e com a mão no nariz o coçando.
Logo lembrei-me daquele plantão de surpresas que tive outro dia que fora cheio de “mexe-mexe” daqui e dali.
Dirijo-me até ele e retruco.
Preciso que o senhor fique imóvel. Agora vou ter que repetir o exame e expô-lo mais uma vez à radiação desnecessariamente.
Acho que fui tão simpático que, quando repeti o exame, ele permaneceu duro feito pedra. Acho  que nem sequer respirou.
Depois, fui posicionar o tórax.
Tudo estava indo bem, até que voltei para mesa de comando e solicitei que respirasse fundo e prendesse a respiração a fim de encher o pulmão.
Por um instante pensei que a cena que vi tinha sido causada pelo sono, mas infelizmente estava enganado.
Ele o fez com uma vontade tão grande que parecia que prenderia a respiração por no mínimo 15 minutos. Entretanto, com essa violência extrema ao querer sugar todo o ar existente na sala, ele se mexeu em excesso e, novamente, saiu da posição que o coloquei.
Pedi para respirar normalmente e fui corrigir sua posição e orientar para evitar mexer-se demais.
Não precisa dançar lambada, é só respirar fundo e permanecer parado. Pensava comigo.
Novamente solicitei que respirasse fundo. Ele fez e se mexeu de novo.
Volto a arrumar sua posição e, já um pouco impaciente, pedi para que respirasse bem calmamente. Nem precisaria encher muito o pulmão.
Ele respirou tão lentamente que parecia demorar décadas, mas não se moveu.
Por fim, terminei seu exame. Revelei e lhe entreguei. O exame de tórax não ficou lá muito bom devido à falta de ar necessário nos pulmões.
Ele agradeceu e voltou à emergência.
Volto para o quarto pensando.
      Não se pode ter tudo com paciente estranho...

Fonte da imagem: filmesegames.com.br

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