Um Procedimento Delicado

Estava em mais um dia de trabalho, dessa vez encarregado da marcação de exames, quando apareceu um paciente solicitando um agendamento. Era um senhor já de certa idade e bem simples.

Por favor, moço, o médico disse que eu preciso fazer este exame aqui. Ele pediu pra tentar agendar o quanto antes. Entrega-me o papel da solicitação.

Leio.

Por favor, sente-se nessa cadeira um instante. Digo a ele indicando um local confortável onde pudesse aguardar. Abro o programa de agendas e vou à busca de uma vaga.

Enquanto estou procurando a data mais próxima, vejo o senhor um pouco acanhado. Olhava para os lados a todo instante como se estivesse esperando um momento certo para me perguntar algo.

Por favor. Ele diz.

Pois não? Respondo com os olhos ainda no monitor do computador.

Esse exame, como é que é ele?

Já com o papel em mãos, olho-o novamente e penso. Como vou explicar?

O pedido: Colonoscopia.

O senhor pareceu notar minha procura das palavras certas sem causar constrangimento e decidiu retirar sua dúvida de uma forma pouco mais direta.

Esse exame é aquele que enfiam um negócio na bunda?

Minha reação imediata foi querer rir, mas contive-me pela ética e tentei ser o mais profissional possível. Mas devo confessar que, em meu ínfimo ser eu gargalhava.

Então... é... esse exame realmente é de um procedimento delicado. Respondo meio constrangido pela situação.

Delicado? Questiona com certa surpresa. Delicado até pra frutinha né. Ele diz completando sua indagação.

Tudo o que pude esboçar foi um sorriso engraçado, esforçando-me ao máximo para não cair na gargalhada com aquele comediante simples à minha frente, e continuo minha busca das datas até que percebo que somente há vagas para um único dia. O último. As outras já haviam sido preenchidas.

Bom, que data você tem ai pra mim? Pergunta retomando a seriedade.

Terei dia vinte e quatro agora, senhor. Posso marcar? Respondo me recompondo da situação.

“Tá”, tudo bem. Pode marcar. Conteve-se um segundo. Só tem nessa data né?

Sim. É a mais próxima. Respondo. Na verdade, é a única que temos no momento. Concluo.

Após marcar a data, entrego-lhe o pedido do exame juntamente com uma ficha que continha a data marcada e o preparo para o exame. Ele toma de minhas mãos e se levanta olhando para a ficha. Vira-se e dá o primeiro passo, quando se volta para mim novamente e diz em voz baixa como se eu o conhecesse e toda sua família há anos.

Psiu, mas não conta pra ninguém isso viu. Esse exame já é safado. Se falar que eu vou fazer dia vinte e quatro então, ai é motivo de me sacanearem.

Essa eu não consegui conter. Cai na risada.

Está bem. Eu juro que não digo. Respondo ainda em risos.

Ele notou a própria frase dita e começou a rir também.

Despedimo-nos e continuei meu trabalho.

Ele?
Deve estar ansioso pelo dia vinte e quatro.

Acho que nunca mais pensará em fazer trocadilhos com o jogo do bicho depois disso.

Fonte da Imagem: medicoonline2016.com