domingo, 31 de dezembro de 2017

O Soneca da Unidade







Alguns pacientes deveria ser proibidos de dormir se constatado um sono profundo e pesado.
Digo isso porque tive uma experiência curta, mas bizarra.
Era madrugada e chamaram-me para realizar um exame na unidade de internação. Não achei isso muito legal da parte deles, pois se o paciente já estava internado e eu estava lá o dia inteiro, porque só quando nos chama quando estamos deitados descansando? Isso é um desrespeito a mim e principalmente ao paciente que será incomodado por mim. E além disso ainda fico taxado pelo próprio por incomodar a noite de sono dele. E com razão!
Enfim. Levantei-me e fui à unidade para realizar o exame. Peguei o aparelho portátil, que de portátil só tem o nome (Já disse isso antes, mas repito!) e o filme.
Na unidade, o enfermeiro me avisou que o paciente não era acamado nem nada e que não necessitava de ajuda. Ele mesmo ajudava a se posicionar.
Quando cheguei lá, o paciente estava dormindo deitado de lado, óbvio, mas tive de acordá-lo. Entretanto, para que meu desespero fosse ainda maior e mais completo, o paciente não queria acordar de jeito algum. Chamava-o e até o sacudi em dado momento, mas nada dele se mexer. Continuava a roncar em seu agradável sono de beleza. Eu, em doce martírio, continuava a chamá-lo na esperança de até o clarear do dia pudesse realizar seu exame.
Quando já perdia as esperanças, e estava quase o dando como morto (só sabia que não estava porque produzia uma sinfonia inacabada de roncos), ele se movimenta. Meus olhos brilharam. “Enfim, farei o exame!” pensava. Mas como diria Joseph Climber, “a vida é uma caixinha de surpresas”.
Quando finalmente consegui acordar o paciente, ou pelo menos era o que parecia, disse a ele: “Boa noite senhor. Desculpe incomodar, mas preciso fazer um raio-x no senhor.”
Ele olha com seus olhos semi serrados para mim como se não estivesse entendendo nada.
Eu repito: “Vamos fazer um raio-x?” e fico com um sorriso besta no rosto esperando a boa vontade dele se mover.
Ele encontra forçar para abrir a boca e pronunciar algo.
“Que horas?” me pergunta.
“Agora!” respondo ainda com o sorriso besta na cara e esperando ele se levantar.
“Ah tá. Tá certo. Vamos sim.”
Fique feliz em ouvir isso, mas logo ele continuou.
“Tchau!” voltou de lado e dormiu novamente.
“Tchau?, como assim tchau?”
Não acreditei. Ele falou comigo e depois voltou a dormir.
Cutuquei ele novamente, só que dessa vez com mais força, e ele abriu os olhos novamente. Já não estava mais com meu sorriso idiota, mas sim com uma cara fechada do tipo “Ta ruim pra você, né amigão!? Olha, pode ter certeza que pra mim também não tá bom!”. Mas só respondi: “E aí, vamos fazer o exame?”
Dessa vez ele entendeu o recado. Levantou-se e pude posicioná-lo. Realizei o exame, revelei e entreguei na unidade. Voltei para o quarto e esperei o galo cantar, o sol nascer, o dia clarear e meu plantão acabar.




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