segunda-feira, 11 de abril de 2016

1, 2, 3 e... Já!


           É engraçado como nós podemos ser, ao mesmo tempo, pessoas boas que ajudam aos outros e pessoas sem vergonha, descaradas, mau caráter que ri da desgraça alheia. Sei que eu estava errado, mas confesso que achei engraçado.

O plantão estava calmo, então decidi ir à UTI para prosear um pouco com um amigo da enfermagem que também estava de plantão.
Quando chego lá, percebo que ele está parado e com os olhos atentos em uma situação que também me chamou a atenção.
Tratava-se de uma estagiária de enfermagem que estava, por alguma razão, tentando levantar o paciente, porém este era bem forte e pesado para ela, que era bem pequena.
Ai, saca só a situação ali. Disse meu amigo com ar de riso. Ela já está ali há uns cinco minutos.
O engraçado era que ela contava até 3 e tentava elevar o paciente. Este parecia estar sedado, mas pouco consciente.
Fiquei observando também. E lá ia ela.
1, 2, 3 e já! E soltava um gemido de quem fazia aquela força tremenda, parecida com as que nós algumas vezes fazemos durante nosso “momento de leitura” no banheiro. Mas era uma tentativa inútil de levantar aquela pessoa que era quase três vezes seu tamanho.
Meu amigo ria da situação. Eu questionava. Porque você não vai ajudar?
Porque ela tem que aprender! Respondia-me simplesmente. E o pior é que ele estava certo. Após formada, ela iria passar por situações ainda piores.
E lá ia ela mais uma vez.
1, 2, 3 e já! E gemia novamente...
Confesso que a cena estava começando a ficar engraçada.
De repente, outra estagiária, também pequena, aparece.
Quer ajuda? Ela pergunta à outra.
Ah, por favor! Exclama a pobre garota.
E lá vão as duas.
1, 2, 3 e já! Agora, ambas gemem. E o paciente? Nada de se mexer.
E novamente, elas insistem...
1, 2, 3 e já! Outro gemido de força em conjunto.
Não acreditávamos naquela cena. Duas estagiárias e nada do homem se mexer.
Quando não achávamos mais possível a situação piorar, percebemos que o paciente ficou consciente. As duas estavam já ofegantes e tomavam pouco de ar para continuar a batalha quando subitamente ouvimos o paciente falar.
1, 2, 3 e... Começa a gemer igual as garotas. Mas também não se mexeu.
Não aguentamos. Começamos a rir. Sabíamos que estávamos sendo grandessíssimos filhos da mãe por ver aquilo tudo e não se prontificar a ajudar, mas até as estagiárias começaram a rir do paciente. Não sabíamos se ele, em seu ínfimo consciente, tentou ajudar, ou se estava gozando da situação também as imitando.
Recompomos o fôlego e decidimos, desta vez, voltar ao estado de pessoa solidária e fomos ajudar as duas guerreiras na batalha.
Levantamos o paciente e a estagiária pode enfim realizar a tarefa que tanto queria. Colocar uma espécie de travesseiro embaixo dele de modo a deixá-lo quase virado de lado.
Voltamos o paciente novamente deitado e caminhamos ao posto em que estávamos e começamos a conversar.
Que briga, hein! Meu amigo disse à estagiária. Sorte que eu te ajudei.
Completa.

Cara, você é muito cara de pau! Concluo.

Fonte da imagem: eunemsabia.com.br

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