É engraçado como nós podemos ser, ao mesmo tempo,
pessoas boas que ajudam aos outros e pessoas sem vergonha, descaradas, mau
caráter que ri da desgraça alheia. Sei que eu estava errado, mas confesso que
achei engraçado.
O plantão estava calmo, então decidi ir à UTI para
prosear um pouco com um amigo da enfermagem que também estava de plantão.
Quando chego lá, percebo que ele está parado e com
os olhos atentos em uma situação que também me chamou a atenção.
Tratava-se de uma estagiária de enfermagem que
estava, por alguma razão, tentando levantar o paciente, porém este era bem
forte e pesado para ela, que era bem pequena.
Ai, saca só a situação ali. Disse meu amigo com ar
de riso. Ela já está ali há uns cinco minutos.
O engraçado era que ela contava até 3 e tentava
elevar o paciente. Este parecia estar sedado, mas pouco consciente.
Fiquei observando também. E lá ia ela.
1, 2, 3 e já! E soltava um gemido de quem fazia
aquela força tremenda, parecida com as que nós algumas vezes fazemos durante
nosso “momento de leitura” no banheiro. Mas era uma tentativa inútil de
levantar aquela pessoa que era quase três vezes seu tamanho.
Meu amigo ria da situação. Eu questionava. Porque
você não vai ajudar?
Porque ela tem que aprender! Respondia-me
simplesmente. E o pior é que ele estava certo. Após formada, ela iria passar
por situações ainda piores.
E lá ia ela mais uma vez.
1, 2, 3 e já! E gemia novamente...
Confesso que a cena estava começando a ficar
engraçada.
De repente, outra estagiária, também pequena,
aparece.
Quer ajuda? Ela pergunta à outra.
Ah, por favor! Exclama a pobre garota.
E lá vão as duas.
1, 2, 3 e já! Agora, ambas gemem. E o paciente?
Nada de se mexer.
E novamente, elas insistem...
1, 2, 3 e já! Outro gemido de força em conjunto.
Não acreditávamos naquela cena. Duas estagiárias e
nada do homem se mexer.
Quando não achávamos mais possível a situação
piorar, percebemos que o paciente ficou consciente. As duas estavam já
ofegantes e tomavam pouco de ar para continuar a batalha quando subitamente
ouvimos o paciente falar.
1, 2, 3 e... Começa a gemer igual as garotas. Mas
também não se mexeu.
Não aguentamos. Começamos a rir. Sabíamos que
estávamos sendo grandessíssimos filhos da mãe por ver aquilo tudo e não se
prontificar a ajudar, mas até as estagiárias começaram a rir do paciente. Não
sabíamos se ele, em seu ínfimo consciente, tentou ajudar, ou se estava gozando
da situação também as imitando.
Recompomos o fôlego e decidimos, desta vez, voltar
ao estado de pessoa solidária e fomos ajudar as duas guerreiras na batalha.
Levantamos o paciente e a estagiária pode enfim
realizar a tarefa que tanto queria. Colocar uma espécie de travesseiro embaixo
dele de modo a deixá-lo quase virado de lado.
Voltamos o paciente novamente deitado e caminhamos
ao posto em que estávamos e começamos a conversar.
Que briga, hein! Meu amigo disse à estagiária.
Sorte que eu te ajudei.
Completa.
Cara, você é muito cara de pau! Concluo.
Fonte da imagem: eunemsabia.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário