quinta-feira, 12 de julho de 2018

Um Casal, Uma Moto, Dois Médicos e Uma Pilha de Exames






Estava no alojamento quando o telefone tocou.
Raios-x. Respondo.
É aqui na emergência. Tem dois exames para você aqui.
Já estou indo. Desligo o telefone.
Chegando lá, vejo o médico terminando de prescrever os exames.
Estico meus olhos para ver quais seriam as incidências. 15 no total.
Nossa! Indago com surpresa.

Ele, ao perceber minha reação aos inúmeros exames começa a explicar.
É um casal. Eles se acidentaram de moto. Já vieram de outro hospital com todos esses exames feitos lá, mas resolvi pedir tudo de novo porque não consegui ver nada naqueles.
Não surpreso, apenas acenei com minha cabeça concordando com suas palavras.
Eles estão ali! Disse-me a enfermeira apontando para a sala de medicação.
Já posso levar? Pergunto.
Sim. Responde apenas.
Quando estou levando-os, percebo que estão bem ralados e se queixando de dores. A garota estava com mais queixas que ele, tanto que ela possuía mais exames e estava na cadeira de rodas, mas conseguia andar sem a menor preocupação.
Comecei por ele, por este ser mais rápido por menos incidências. Depois realizei os dela.
Em ambos os casos foi certa briga em posicionar corretamente, pois era “ai, ai” daqui, “ui, ui” dali. Aquela coisa de praxe.
Demorei cerca de 40 minutos com os dois.
Até que fui rápido! Pensei. A julgar pela indisponibilidade que ambos apresentavam em se posicionar.
Revelei os exames e levei ao médico para a avaliação final, e devolvi o casal à enfermaria.
Aqui está Doutor. Digo enquanto entrego-lhe em mãos os exames e completo. O cidadão fraturou a clavícula direita.
Antes mesmo que ele abrisse o envelope e analisasse as imagens, ele disse:
Sim, eu sei. Eu vi isso nos raios-x que eles trouxeram.
Intrigado com sua resposta, indaguei.
Mas o senhor não havia dito que os exames que eles trouxeram não davam para ver nada?
Percebi uma demonstração acanhada da parte dele que tentou se justificar enquanto gaguejava.
É, isso eu consegui ver.
Hum… Sei. Respondi.
Entreguei-lhe os exames e voltei para meu alojamento.
Mais tarde trocou o plantão médico e novamente fui acionado para o mesmo exame, que segundo o médico, não havia feito um dos ombros da garota. Ao que parecia o casal ainda permanecia no hospital. E já havia se passado um bom tempo que eu fizera seus exames.
Mas eu fiz! Respondo ao médico depois de ter me dirigido novamente à emergência.
Mas está faltando uma, não está? Ele disse. Eu não vi! Completou.
Abriu o envelope e começou a saltar os exames um por um, até que chegou ao tal que ele queria.
Aqui. Está faltando o perfil e o axilar. Disse enquanto mostrava-me um exame do ombro da garota em sua mão.
Esboço uma face de indiferença lançando-a para o médico e respondo.
O Frente eu aproveitei do tórax para não expô-la mais que o necessário à radiação, e este que o senhor está segurando é o perfil.
Ah é! Não é o frente? Pergunta-me intrigado. Bom, de qualquer forma ainda falta o axilar, né.
O axilar eu realmente não fiz, pois o outro médico, até então, não havia pedido. Respondi.
Levei a garota à sala de exames e realizei a incidência que faltava.
Revelei-a e entreguei ao médico.
Voltei para o alojamento pensando. Esses médicos que não se comunicam entre si…


Fonte da Imagem: Pixabay.com

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