segunda-feira, 23 de maio de 2016

O Velho e seu Umbigo


Muitas coisas bem estranhas já aconteceram comigo, mas nada igual ao que passo a contar a vocês agora. Parece até mentira, mas queria eu que tivesse sido.
Muitas clínicas atendiam naquele dia. Logo, havia um número considerado de exames e alguns estagiários estavam me ajudando a acabar com a fila que se formava no lado de fora da seção.
Estava tudo indo normal no trabalho, eis que surge o cidadão em questão. Um senhor já com cabelos todos brancos. Aparentava ter seus quase 60 anos de idade e possuía uma feição de tarado. Vinha com um pedido em mãos. Raios-x de abdome em pé. Até aí nada de mais.
Por favor, entre na sala. Disse cordialmente a ele. Ele logo adentrou sem pressa.
Notei que ele estava usando uma calça jeans, o que iria me atrapalhar na realização do exame devido às partes de metal contidas naquela calça.
Vou precisar que o senhor retire essa calça por conta do botão e zíper. Solicitei a ele enquanto pegava um avental e lhe entregava para que pudesse se trocar. O senhor pode vestir isso aqui. Completei.
Está bem. Disse o senhor.
Saí da sala e encostei a porta a fim de deixá-lo a vontade para se trocar.
Alguns estagiários estavam me acompanhando no exame, mas apenas de forma a observar.
Depois de feito isso, abri a porta e fui posicioná-lo.
Coloquei-o em pé e de costas para o receptor já com o filme posicionado.
Ele estava um pouco torto, parecia possuir escoliose. Isso dificultou um pouco minha visualização para o ponto exato onde deveria colocar alinhado com o filme. Percebendo que ele era magro, pensei:
Até que posso utilizar seu umbigo como referência para posicionar corretamente, já que ele é magro.
Mesmo assim, seu umbigo estava coberto pelo avental que havia lhe fornecido antes, e eu não poderia lhe pedir para que o levantasse a fim de poder ver sua localização, pois havia estagiárias mulheres ali no meio.
Então decidi falar alto e em bom tom:
Por favor, mostre seu umbigo POR CIMA do avental.
Oi? Ele perguntou sorrindo de forma quase irônica.
Repeti, novamente, alto e em bom tom:
Por favor, mostre seu umbigo POR CIMA do avental.
Eu não sei o que raios se passaram na cabeça daquele ser iluminado que o fez agir como agiu.
Ele sorriu novamente. Olhou pra baixo. Estendeu uma das mãos agarrando o avental e o levantando com tudo. Abaixou sua cueca. Segurou com a outra mão, formando uma concha, seu “amiguinho” e o ergueu. Voltou seus olhos para mim novamente e disse:
Assim? Falava-me. Assim? E sorria de forma tarada.
Minha raiva daquele sujeito foi tanta que fiquei estático sem poder acreditar no que estava acontecendo naquele momento.
Cheio de ódio, me virei para o primeiro estagiário que vi na minha frente, e bufei cheio de raiva:
Termine esse exame, por favor!
Sentei na cadeira e esperei pacientemente o estagiário acabar seu exame e tirá-lo dali.
Juro que até hoje me pergunto tentando compreender o que foi que ele entendeu da minha frase.
Ou ele entendeu algo absurdamente contrário ao que disse, ou ele estava tentando me cantar.

E depois dizem que técnico em radiologia é que é o tarado da história.


Fonte da imagem: mypixeland.com

Um comentário:

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